O câncer atualmente é a terceira causa de morte no mundo. Mas uma nova esperança surge no combate à doença. Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) descobriram esse novo método de utilização para a substância conhecida como álcool perílico (AP), um lipídio que pode ser extraído de óleos essenciais de várias plantas, como frutas cítricas e vegetais.
O trabalho está sendo desenvolvido pela coordenadora-geral do projeto (Instituto de Biologia), Thereza Quírico-Santos, pela farmacêutica responsável pela parte aplicada (Faculdade de Farmácia e Huap), Débora Futuro, e pelo coordenador da parte clínica dos pacientes e neurocirurgião (Huap), Clóvis Orlando da Fonseca.
Em sua dissertação de mestrado, Fonseca comprova a ação “in vitro” do álcool perílico em células de tumor no cérebro. O AP inibe em menos de meia hora a proliferação destas células por um processo chamado apoptose, tipo de morte celular que não causa necrose. Ela ocorre pela fragmentação do DNA e, desta forma, as células cancerosas perdem a capacidade de se multiplicar.
Quando a morte celular ocorre por necrose, há a liberação de radicais livres que estimulam o crescimento das células cancerosas. “O processo de apoptose seria uma morte limpa da célula”, explica a professora Thereza. Em outro trabalho, “in vivo”, células tumorais foram tratadas com álcool perílico e colocadas num ovo com embrião.
Nesse caso, elas perderam a capacidade de migrar. Esse foi um ensaio que demonstrou que as células tumorais tratadas com álcool perílico perdem a capacidade de formar metástase porque não migram (isto é, o câncer não se aloja em outros pontos). O tratamento convencional dos pacientes com câncer envolve cirurgia, radioterapia e quimioterapia, procedimentos que também atingem as células saudáveis e provocam diversos efeitos colaterais.
Segundo o professor Fonseca, a nova proposta tem como estratégia agir no tumor de forma não-invasiva, sem afetar as células normais. Assim, os pesquisadores decidiram adotar a inalação como forma de administração do álcool perílico. Ao ser inalado, o AP age diretamente no sistema nervoso central e no tecido pulmonar.
O professor Clóvis Fonseca foi autorizado a fazer esse trabalho por meio da utilização do AP em pessoas com tumor cerebral “recidivo” (pacientes que passaram por todos os tratamentos convencionais, tinham sido operados e voltaram a apresentar a doença). O trabalho está sendo feito na UFF com pacientes encaminhados ao Huap, onde foi criado em 2005 um ambulatório de neurooncologia. O tratamento é totalmente gratuito e os pacientes tratados com álcool perílico, até o momento, não apresentaram qualquer efeito colateral indesejável.
Estão sendo tratados com o AP quatro pacientes com tumor cerebral. Um deles é N.L.S., que apresenta glioblastoma multiforme, um tipo de tumor bastante agressivo em que a sobrevida é muito pequena. O paciente começou a ser tratado no dia 4 de novembro de 2004 e, segundo o médico, seu estado era terminal. Apresentava dificuldades respiratórias e para engolir e estava paralisado em todo o lado esquerdo. Também não falava e estava em estado de torpor.
Depois de começar o tratamento diário com AP, o paciente se alimenta, conversa e está desperto, mas ainda continua paralisado. Os demais pacientes estão sendo monitorados e neles o tumor não aumentou. A paciente com câncer de mama que está sendo tratada com AP apresentava múltiplas metástases no início do tratamento. Ela ainda faz uso do AP, porém a doença se encontra em completa remissão há quase dois anos. Mesmo sendo preliminares, esses resultados são considerados promissores pelos cientistas.
Outras informações, com o professor Clóvis Orlando Fonseca pelos telefones (21) 9954-9554 e 2491-6741 ou com a professora Theresa Quírico pelos telefones (21) 9612-2985 e 2629-2305. Havendo interesse em imagens, o Núcleo de Comunicação da UFF (telefones (21) 2629-5241 e 2629-5240) pode disponibilizá-las (imagens do processo de regressão do tumor).
Texto retirado do site http://www.neuro.pucpr.br/