Texto Valéria Trigueiro
UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DOS PERFUMES
Para falar sobre perfumes, temos que voltar um pouquinho no tempo, a fim de conhecermos melhor o que exatamente estamos fazendo quando usamos um perfume. Tudo tem uma história e esta, tem um por quê. Assim, devemos lembrar que no início do mundo não havia muita variedade de plantas e aromas. Este último foi criado como um sistema de defesa das plantas contra o ataque de insetos, juntamente com a criação de pelos, cascas mais grossas e resinas. Como a Natureza é realmente um sistema perfeito e completo de adaptação, os insetos por sua vez criaram seu próprio sistema de adequação. Alguns se viciaram em determinados aromas, passando então a fazer o que conhecemos como polinização, levando de um lado para outro, sementes, criando novas espécies. A inteligência das plantas então precisou criar aromas cada vez mais fortes e sofisticados. Da raiz às flores se encontrava substâncias fungicidas, bactericidas e a cicatrização ficou por conta das resinas.
Chegamos ao Antigo Egito, quando o homem através da observação das plantas aprende a honrar os deuses, envenenar armas, criar rituais religiosos e de sedução, curar, embalsamar e perfumar. Nesta época a saúde física e espiritual era una. Na Grécia Antiga já se valoriza a higiene e a beleza e é dali que vem o costume mantido até hoje de jogar-se pétalas de rosas nas tumbas como símbolo de vida eterna.
Quanto à arte da perfumaria já se usa olíbano, mirra, canela, cravo, benjoim e sândalo com o intuito de sedução no Século IV A.C. Entretanto, na Roma Antiga é que tais usos se perpetuam e o hábito de tomar banho se estabelece como ritual cotidiano de limpeza física e espiritual, surge o sabonete, que naquela época chamava-se “sapo” – uma mistura de gordura de carneiro, cinzas de ervas queimadas e óleos essenciais.
Nesta época fica bem clara a relação das ervas e plantas como curativas, através de “Tratados Médicos” atribuindo poderes curativos ao sândalo, ao cardamomo e à rosa em poder da burguesia. Ao passo que se estabelece o uso cosmético, com a manufatura de pomadas, talcos e águas aromáticas, diminui o simbolismo místico e religioso. Surgem os recipientes de vidros, que substituem os de cerâmica usados até então. Têm vantagem soberana, já que não deixam odores, as resinas não são absorvidas pela porosidade da cerâmica e ainda podem imitar os recipientes gregos em suas formas e cores.
Na Idade Média Yakub al Kindi (803-870) escreve o “The Book of Chemistry”, onde faz alusão aos óleos essenciais. É quando também se dá a descoberta e o desenvolvimento da destilação, creditada ao poeta, matemático, médico e alquimista Avicenna (980-1037). Historicamente, a primeira destilação bem sucedida foi a da rosa, que merece um livro inteiro sobre o assunto.
Santa Hildegarde von Bingen escreve quatro tratados de medicina herbal (Causae et Curare), sendo à ela também creditada a criação da Água de Lavanda, sua favorita. Entretanto, não só a Água de Lavanda é usada nesta época, surgem a Água de Carmelita e a Água Milagrosa que são fórmulas secretas, guardadas a sete chaves pelos padres e freiras europeus, por serem preciosas pelo poder curativo, inclusive contra “problemas de visão”, melancolia, memória, dor e febre. Apesar de todo o segredo, sabe-se que dentre as ervas, havia três flores: lavanda, angélica e camomila.
Neste ponto já é possível notar alguns conhecidos nossos – fórmulas secretas, poder da Igreja e tratados médicos em poder da burguesia. Sabemos que isto é apenas o começo. Controle e monopólio não são “privilégios” de nossos tempos. Já nos Séculos XIII e XIV a Itália monopoliza as rotas comerciais do Oriente. Há o controle das especiarias e do perfume, com o intuito de debelar a praga, a Igreja restringe o uso das ervas apenas aos palácios e monastérios, seu uso fora deles seria redundante mencionar.
Nas Cruzadas (1096-1291) desenvolve-se o comércio entre o Oriente e a Europa, com o incremento da utilização das especiarias e das essências. Volta-se a valorizar a higiene, trazendo o perfume desta vez aliado à arte. Na França se estabelece a união entre os herbalistas e os boticários, estes, por sua vez, por possuírem maior cultura, assumem o papel de médicos e perfumistas.
Com a chegada do Século XVIII não é mais necessário mascarar odores fortes e em conseqüência modifica-se o senso olfativo fazendo surgir os aromas florais. Registra-se o surgimento da primeira fragrância sintética, isto é, produzida em laboratório, em 1868, sendo que no ano anterior já havia ocorrido algo que vinha modificar a história efetivamente. Foi o fato de que na Feira Internacional de Paris os perfumes e sabonetes foram expostos em uma seção aparte da farmacêutica. Estava estabelecido um setor industrial independente. Os perfumes deixam de ser considerados curativos e naturais, tornando-se apenas acessórios.
Porém nem tudo está perdido, já que em 1928 Maurice Gattfossé nos traz de presente a AROMATERAPIA, e com o advento da II Guerra Mundial (1939-1945) JEAN VALNET lança como recurso extremo, a fim de amenizar a dor e curar as feridas de seus soldados, os óleos essenciais, sendo muito bem sucedido. A partir disto, continua seus estudos, desta vez testando os óleos essenciais para curar distúrbios de ordem psiquiátrica, podendo comprovar sua eficácia.