Texto de Suzana Camargo de Superinteressante
Estima-se que todos os anos cerca de 80 milhões de toneladas de solo sejam contaminadas por óleo. Só no Brasil, são 2,5 milhões de toneladas. As técnicas utilizadas atualmente para solucionar o problema têm mais de quarenta anos. Além de caras, muitas vezes geram impacto ambiental.
Engenheiro químico, com experiência em meio ambiente, o paulistano Fernando Pecoraro descobriu na casca da laranja uma maneira sustentável e barata de descontaminar solos impregnados com óleo.
Para entender como esta tecnologia 100% brasileira funciona é preciso primeiro ter uma rápida aula de química. Vamos lá. Terpeno é um hidrocarboneto líquido (traduzindo: um composto orgânico formado de carbono e hidrogênio), base de grande quantidade de essências vegetais, obtido pela destilação de plantas.
A casca da laranja é rica em óleo essencial D-Limoneno, um terpeno comum. Depois de seis anos de pesquisa, Pecoraro conseguiu potencializar a ação do composto para uso como desengraxante natural e criou o terpeno P.
A tecnologia para recuperação de solos contaminados recebeu o nome de Recoy – RE de recuperação, ECO de ecológico e Y de água, em tupi guarani. “O nosso objetivo sempre foi o de construir uma empresa sustentável. Para isto, tínhamos que nos basear em três pilares principais: escala, qualidade e preço competitivo”, contou Pecoraro ao Blog da Redação. “Para termos escala, buscamos o óleo da casca da laranja, já que o suco da fruta é produzido em larga escala e a cadeia da laranja é bem desenvolvida”.
O equipamento, que funciona dentro de um caminhão, lava o solo sem utilizar grandes quantidades de água, o que é comum nos processos tradicionais. A remoção do óleo a frio dispensa o uso de energia. Ao final do processo, o solo está limpo e pode ser devolvido ao seu lugar original. Não há descarte de resíduo contaminante, que é separado e pode até ser reutilizado. O solvente químico verde também pode ser usado novamente.
Segundo o engenheiro, as novas linhas de pensamento em sustentabilidade falam de modelos circulares. Abandonar os processos lineares onde exploramos recursos, utilizamos os mesmos e descartamos tudo aquilo que foi transformado e não serve mais. “A tecnologia Recoy partiu do princípio de que dois grandes ativos – solo e óleo – não podem simplesmente perder seus valores reais quando misturados. Dois ativos que viram resíduo tóxico imediatamente após combinados. Desenvolvemos uma forma de devolvê-los ao formato original”, explica.
O terpeno P se mostrou eficiente na remoção de solos contaminados com hidrocarbonetos em geral. Podem ser de origem mineral, vegetal ou animal. Ou seja, qualquer tipo de contaminação com petróleo e derivados, óleos vegetais e gorduras animais.
Em janeiro deste ano, a inovação do brasileiro foi premiada pelo programa americano Launch*, que tem como logo “Collective Genius for a Better World” (Gênios Reunidos por um Mundo Melhor, em tradução livre). O programa é uma parceria entre o Departamento de Estados dos Estados Unidos, Nasa, Nike e Agência Para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos. O objetivo da iniciativa conjunta é identificar e acelerar inovações que possam melhorar o planeta. Exatamente como a nova tecnologia desenvolvida no Brasil.
Fernando Pecoraro recebeu o prêmio de melhor desafio nos avanços na área da química verde. Foi selecionado entre 60 concorrentes de 12 países. Em palestra no Centro Espacial Kennedy, na Flórida, no começo do ano, apresentou sua descoberta e discutiu com membros do Conselho Launch estratégias para tornar a tecnologia global.
“Foi uma honra ter sido selecionado pelo Launch e ainda ter recebido o Innovator’s Award. É como encerrar a fase de desenvolvimento tecnológico inovador com chave de ouro”, diz.
Assista abaixo animação que mostra o processo de produção do terpeno P e no outro vídeo como funciona a limpeza do solo dentro do caminhão: